A infância e a terceira idade são duas fases importantes na vida de um ser humano, na medida em que, nesse período, são maiores as necessidades em termos de cuidados de saúde, alimentação, afecto, carinho, etc. Se, no primeiro caso é importante uma atenção cuidada, com vista a se criarem condições para um desenvolvimento saudável da criança – o futuro adulto, não deixa de ser, igualmente, importante que a uma pessoa idosa seja dada uma atenção especial, por forma a se lhe garantir uma boa qualidade de vida. Em ambos os casos, a primeira responsabilidade é atribuída à família mais próxima. O que acontece, porém, é que em grande parte das situações, nós nos esquecemos das responsabilidades que temos de cuidar daqueles que nos são próximos, seja pelos laços familiares, seja pela amizade. A desculpa vem, invariavelmente, sob a forma de falta de tempo, pois andamos apressados a correr atrás de coisas que são, muitas vezes, supérfluas.
Ainda assim, é razoável admitir-se que, não raras vezes, vamos ganhando consciência de coisas que são importantes e vamos pondo de lado as que não são. É interessante sabermos que temos capacidades de alterar as nossas condutas e actuações e, em várias ocasiões, vemo-nos a reflectir sobre o nosso comportamento, sobre as nossas ambições (muitas vezes desmedidas), enfim, sobre aquilo que nos rodeia. Afinal, yes we can! Então, pertinente se torna pararmos um pouco e reflectirmos se vale a pena essa correria desenfreada à procura de não-sei-quê! O ritmo acelerado da vida diária tem-nos empurrado para uma fraca qualidade de vida. As crianças vêem-se forçadas a viver um tempo que não o seu. O adulto sente saudades da infância que não viveu e faz uma fuga para a frente, perseguindo uma realidade que não o seu. Desculpas vêm sob a forma de globalização e desenvolvimento. Então, ao invés de utilizarmos as nossas capacidades para redescobrir o caminho que melhor se adapta à nossa realidade, preferimos dançar ao som da música, como se não pudéssemos mudar a canção.
E, um dos aspectos que a sociedade cabo-verdiana precisa parar e pensar, é aquilo que pretendemos para os nossos idosos. Depois de uma vida longa de trabalho e sacrifícios, será digno uma pessoa ter uma boa qualidade de vida. Desse modo, sejam os familiares, sejam as instituições de cariz social, devem trabalhar no sentido de minimizar as dificuldades e carências por que passam muitos dos nossos idosos. Um abrigo condigno, uma alimentação saudável, cuidados de saúde e carinho é o mínimo que se pode oferecer a um idoso. Por outro lado, é também necessário adaptar as actividades diárias do idoso às suas condições físicas. A necessidade de realizar actividade física não pode ser encarada como pretexto para realizar trabalho doméstico ou de outro tipo, colocando em risco a segurança e saúde do idoso. Devemos todos ganhar a consciência dos potenciais problemas a que pode estar sujeito um idoso e trabalharmos no sentido de alterar as práticas e procedimentos que chocam com os seus direitos.
As ONG’s, pelo importante papel que desempenham no desenvolvimento das comunidades locais, podem ajudar na identificação das situações mais gritantes de carência e de apoio ao idoso e, junto das entidades oficiais, identificar as medidas a serem tomadas. Da mesma forma, entendemos que o voluntariado juvenil pode, também, desenvolver um conjunto de acções direccionadas à terceira idade, seja no levantamento e diagnóstico da realidade socioeconómica das famílias mais vulneráveis, seja no acompanhamento e apoio na realização de actividades diversas. Às instituições públicas estatais caberão, certamente, entre outras, a responsabilidade na identificação de fontes de financiamento de projectos direccionados à terceira idade, designadamente a construção de centros de dia em todos os concelhos do país; programas de formação e treinamento de jovens, de forma a melhor lidarem com a problemática da terceira idade; etc., etc. Aos familiares, funcionários públicos, empresas e cidadãos, de uma forma geral, devem ser direccionadas acções de sensibilização, com o intuito de permitir que condições sejam criadas para que os nossos idosos passem a ter uma vida condigna, de acordo com os direitos humanos mais básicos. Assim se espera.
