Algures no planeta Marte, a dúvida se instala nos sofás de uma casa branca, a contemplar as ondas de calor na rede televisiva Y, enquanto envia mensagens, através da rede X. O assunto é o degelo no golfo ardido pelo fogo da ganância. Entretanto, algures no tempo das conferências, o assunto das alterações climáticas foi banido do discurso politicamente correto. Nas linhas e entrelinhas da caixa mágica, formas e conteúdos são incapazes de esconder a farsa dos acordos de paz, a impugnação das estatísticas sobres as valas comuns, nem a construção de narrativas doiradas sobre ilhotas de lixo. Pelo contrário, formas e conteúdos revelam novos contornos e reforçam o juízo da lixiviação das patologias de carácter, porém, aumentando o fosso entre os extremos. E o discurso, aparentemente “aglutinador”, do outro lado do oceano, soa a jogos de concubinato.
Num ápice de tempo, os espíritos dos “comedores de animais de estimação”, ilhavados na lixeira da imaginação, viajam em jangadas do purgatório e desistem das terras cobiçadas pelo tio Sam, pelo seu amigo de sangue-frio e pelo outro amigo de sangue em efervescência. Realizada a volta ao mundo em 80 horas, os espíritos aventureiros chegam em terra firme, são recebidos como vermes e são encostados à parede. O Júlio Verne não tem como filmar, mas as lentes da StarWarr permitem fazer o link entre as redes sociais e a disseminação das imagens maratona pelo mundo.
Algures no tempo do subconsciente, a sociedade parece indignar-se, saindo às ruas, porém, deixando nas gavetas do inconsciente as farpas da hipocrisia, antes cravando ao peito os cravos das lamentações. Lá atrás, no tempo da ferradura, a democracia terá sido morta pela própria boca da língua. A aventura exploratória pelo mundo, o jogo dos perímetros territoriais e a demarcação dos pontos cardeais, não parecem ter impedido que o terrorismo de Estado entre em disputa com o terrorismo dos Alucinados. Na verdade, ainda que aparentemente distintas, não serão, formas e conteúdos terroristas a mesma face do egocentrismo, em cuja outra face está o belicismo?
Algures na terra inventada e nas ilhas afortunadas, a democracia é o prato principal na ementa discursiva. A responsabilidade foi ter ao planeta Marte, a mando da liberdade. No regresso, traz consigo o menino Alien, que cresce vertiginosamente e passa a disseminar, de maneira extraordinária, as suas doutrinas: tudo que não seja normal à vista de Alien, deve passar a sê-lo: a má educação, o insulto e a instigação da violência; os fake news; andar nu, dizer palavrões e grosserias pelas ruas de Júpiter ou de qualquer ou planeta, etc. e tal. Algures na terra prometida, a democracia é o pretexto para o massacre de crianças mulheres e idosos. O ódio patente nas retinas e nos dedos em riste, fazem tremer as palavras e os semblantes daqueles que fornecem armas e bombas para matar os inocentes, cujo pecado maior é ter nascido em terra proibida.
Nenhuma alteração nos quadros de vida no planeta Terra parece conseguir levar-nos à autoconsciência de que estamos a matar-nos uns aos outros e que estamos a encarar tudo com ‘normalidade’, ainda quando deixamos cair o queixo, por aparente surpresa. Ao reagirmos coletivamente, mas colocamos na gaveta as nossas hipocrisias, estamos a enganar a nós mesmos. Temos de despir os nossos preconceitos, enfrentar os nossos medos e encarar o menino Alien. As nossas pernas, braços, dedos, lábios e olhos não podem tremer. O poder de uns sobre os outros fez seu percurso sobre o medo e a intimidação. Por mais fortes, bizarras, dramáticas ou inspiradoras que nos possam parecer as palavras, a nossa primeira atitude deve ser a reflexão.
Aceitar, de imediato, que tudo seja verdade e ‘normal’, é tirar o poder que existe em nós e entregar ao menino Alien, que sempre aparece com a cara de um santinho ou um anjinho que quer ajudar. Porém, ao estarmos atentos às formas e aos conteúdos, o nosso sorriso se acautela e apercebemo-nos, então, que até o diabo é pintado com as cores do arco-íris e é-lhe colocado ao peito a faixa de patriota, por ter pisado as brasas onde jazem as almas e os espíritos daqueles a quem insultou, injuriou, caluniou e até tentou assassinar politicamente. A concórdia e os desejos do porvir enterram as discórdias e a hipocrisia fica, assim, na crista da onda, mas é o surfista quem é aplaudido.
Esta é uma divagação dos sentidos. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos da realidade, pode não ser mera coincidência. Falar de democracia e agir em nome dela, porém, praticando atos de violência institucional e coletiva, é mera abstração.

